Teve um tempo em que ela sentia saudades daquilo que ainda não era. Angustiava-se com tudo aquilo que poderia ter sido. E sequer percebia que o que vivia lhe escorria dos dedos, como a areia dos castelos que construía na praia.
Vivia tanto presa no amanhã, que suas teias se enredavam nos olhos e agrilhoavam seu peito. Que batia descompassado: Apressado demais em ter o futuro, não sabia a cadência suave dos segundos do agora.
Já ele não. As correntes que arrastava eram tudo aquilo que já fora. Trazia na face, lembrança de eras. Era o passado nele que fazia também um batuque descompensado no seu coração.
Se o dela soava acelerado em busca do que ainda não vivera. O dele lentamente se perdia nos rastros do outrora. E era essa dicotomia do tempo que os ausentavam entre si. Como conciliar o pretérito mais que perfeito dele, com o futuro do pretérito dela?
Talvez sempre seguissem assim, separados por tempos verbais, mas nem a gramática pode quando sua conjugação vem no imperativo. Por amarem eles hoje, seguem juntos no infinitivo do verbo amor.