23 de nov. de 2011

Vocação

Pequena descobriu o prazer da leitura. A mãe, professora de literatura, cercada de livros por todos os lados, despertava e atiçava sua grande curiosidade.

Habituou-se a ficar ali, junto da mãe, fingindo ler aqueles livros de desenhos complicados e páginas em preto e branco. A mãe divertia-se, ao vê-la, deitada de barriga no chão, as mãozinhas no rosto, compenetradíssima "lendo" o livro de cabeça para baixo.

Aprendeu a ler quase que sozinha. Entrava nos quatro anos, quando pediu a mãe uma cartilha. Mesmo cansada, quando chegava em casa, depois de uma dura lida de trabalho, a mãe sentava-se com a menina e explicava que vovó viu a Uva e Ivo visitou o Vovô, no tatibitate das cartilhas infantis.

Logo aprendeu a ler. Lia, de revistas em quadrinhos à bula de remédio. Até que descobriu o prazer dela mesmo contar suas próprias histórias. E alugava os adultos da casa com longas histórias de fadas, interpretada, muitas vezes, por seus personagens prediletos dos desenhos animados.

Um dia indagada sobre o que seria quando crescesse, respondeu depressa, sem titubear: Escritora. O que causou certa estranheza nos presentes: crianças querem ser professores, médicos, bombeiros, astronautas até, mas de onde essa menina tirou que quer ser escritora?

Depois de toda aquela reação, achou prudente guardar a vontade por dentro. E quando perguntavam, ela rápido respondia uma profissão, qualquer que estivesse na moda. Aos poucos, as histórias contadas oralmente, foram se amontoando em papéis escondidos em seu quarto. Somente a mãe suspeitava da luz acesa, quando todos dormiam, da eterna olheira. Certo era que as noites dedicava à escrita. Debruçada no papel, criando personagens e enredos.

Hoje já não perguntam o que ela quer ser quando crescer, perguntam o que ela é: e ela diz, em voz meio apagada, a profissão que garante as contas no final do mês. Mas, a criança que ainda existe dentro dela, ignorando o fato das muitas recusas das editoras e revistas, grita: Escritora.

20 de nov. de 2011

Poliana em Tempos de Crise - cap. IV

Capítulo 4 
Caindo na real
Ou a vida não presta 


Os primeiros meses de separação foram caóticos. A casa sempre bagunçada e não adiantava pedir para Lia ajudar, que o máximo que ela fazia era passar uma vassoura na casa e colocar um congelado no microondas. O resto sobrava para mim mesmo, oras. 

Algumas estudiosas no assunto rotularam a mulher moderna como supermulheres. Denominação que, sinceramente, tem mais glamour no nome do que no real.

Não lembro de ver a Mulher-Maravilha ou a Super-Girl tendo que lidar com máquina de lavar, trouxa de roupa para passar, barriga no fogão ou vassoura na mão.

Enfrentar supervilões parece ser mais divertido do que ter que acordar às  seis da manhã, correr para o banheiro e tomar uma ducha rápida, acordar as filhas para a escola. Preparar o café, pentear o cabelo da filha mais nova e colocar o lanche das crianças na mochila.

Engolir um pedaço de torrada e entornar um copo de café, ao mesmo tempo em que manda as crianças para o colégio. Tirar a carne do congelador, botar a roupa na máquina, escrever instruções para as meninas e pregar na geladeira.

Trocar de roupa e partir para a condução lotada. Quando tenho sorte, consigo um lugarzinho espremido entre a janela e alguém que fatalmente irá dormir caindo em cima de mim. Muitas vezes, babando.

Depois de quase uma hora de condução, chegar ao trabalho e encontrar a mesa cheia de relatórios e ofícios para digitar e/ou arquivar.

Ainda enrolada com os documentos, terei que interromper tudo para servir cafezinho para o chefe e a visita. Além de providenciar o presente dele para a filha mais velha, agendar e reservar hotel para a viagem de negócios, que bem sabe, não é de negócios, na maior parte das vezes.

Meio dia, pausa para um almoço rápido num restaurante a quilo da esquina, se for inicio do mês, caso seja no final, quando o dinheiro mal dá para a passagem, contentar-se com um pé-sujo que vende um joelho e um refresco por R$ 2,00.

Voltar para o escritório, onde agora tem mais uma infinidade de documentos para arquivar, digitar, além é claro de providenciar água, café, e o que mais o chefe desejar.

Fim do dia, voltar para a casa, a cabeça estourando e enfrentar uma fila de vinte minutos para entrar em um ônibus cheio, aonde vai espremida e sarrada metade do caminho, quando finalmente consegue sentar. Mas logo chega a hora de descer, caminhar uma quadra inteira, pegar a filha que está na creche, que cobra quase 1/3 do salário, para ficar com ela.

Em casa, antes de sentar, preparar o jantar, estender a roupa que deixei batendo de manhã, se Liliana tiver prova ou trabalho para o dia seguinte ajudá-la nos estudos, depois finalmente, sentar, prato no colo em frente à tv e ver a mocinha sofrendo horrores nas mãos do vilão da vez, normalmente durmo ali mesmo, até a filha mais nova me acordar, choramingando, por que o irmã bateu nela.

Aí a supermulher tem que servir como juiz e decidir por dar razão a uma ou a outra, mas como está com os olhos pregados, resolve dar uma bronca nas duas e colocá-las para dormir.

Fala sério, vai dizer que não é melhor ter que dar porrada no Lex Luthor ou no vilão da vez?
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Os capítulos anteriores de Poliana em Tempos de Crise você pode ler aqui: http://polianaemtemposdecrise.blogspot.com/view/classic

16 de nov. de 2011

Ainda sobre Felicidade

Desde o inicio do ano que tenho a sensação de que Murphy fez acampamento por essas bandas.  Coisas simples viram emaranhados; situações corriqueiras, dramas mexicanos; A casa parece revoltada: é a cama que quebra, a bomba da caixa d'água que pifa, dá pane no luz e queima o ventilado de teto e etc As contas do mês que não fecham e a guerra, que parece eterna, para continuarmos na nossa casa, entre outras coisas.

Natural que nessas horas, ou nesses dias,  a revolta/tristeza se apodere de mim. Natural também que se instaure a vontade de ficar mais quieta e escondida, afinal, ninguém quer ser a personagem Hardy Haha (ok, acabei de denunciar a minha idade! ) rs choramingando pelas redes sociais a eterna ladainha :  "Oh, dia, oh, céus, oh, azar..."  Mas, também não dá para ficar brincado de Pollyanna o tempo todo. Tem hora que até o Jogo do Contente dá no saco.

O feriado, particularmente, foi um dia complicado e a noite, estava me sentindo extremamente esgotada, vontade monstro de chorar e tal. Foi quando apareceu o link de uma escritora que adoro - Elenita Rodrigues (ou Lena, conhecida por ser ex-BBB), mas pra mim, ela é muito mais do que isso, é uma das boas coisas que a net deixou visível. O link dizia: "Porque eu chorei... e chorei".

“Eu tive um dia terrível.” Nós dizemos isso o tempo todo. Uma briga com o chefe, enjoo, engarrafamento… É isso que descrevemos como terrível, quando nada de terrível está acontecendo.

(Até que a gente perde alguém que a gente ama... até que um acidente, uma fatalidade, uma doença rouba e leva embora pra sempre ainda que ainda merecia estar aqui... neste planeta, neste minuto, respirando, vivendo... É quando percebemos que... 


E, mesmo sabendo que aquele texto não era pra mim, foi inevitável a sensação de que eu precisava ler aquilo! Que sim, a vida pode ter seus altos e baixos, que dias ruins acontecem e dias bons também! Mas, que perder alguém que amamos transforma tudo mais em nada... 


De repente, me dei conta que preferiria todo esse ano Murphyano por décadas, se me fosse dada a escolha de poder conviver novamente com pessoas amadas que partiram tão cedo. 


Infelizmente, não posso fazer essa escolha, mas posso enxergar mais do que meu próprio umbigo, posso escolher entender que se as coisas não dão certo, são apenas coisas que não dão certo hoje! Mas, amanhã, elas podem dar, ou não... Posso aprender a lidar com todos os baixos como aprendizados e posso, principalmente, sublinhar o que acontece de melhor. Viver os altos em plenitude. 

Felicidade é questão de escolha, tristeza também. E sou eu quem decide o que escolher. Sim, querer ser feliz o tempo todo pode virar uma neurose, e é preciso pequenas pitadas de melancolia para não esquecermos da nossa humanidade. Mas, fixarmos nosso olhar apenas no que nos faz mal, também nos retira nossa cota de ser humano. 

Ser infeliz o tempo todo, concentrados no que nos atinge ou ser feliz o tempo todo, "esquecendo" o que nos atinge,  cria uma carapaça de indiferença. E indiferença é o pior de todos os crimes!

A lição que quero levar desse ano tão repleto de montanhas russas emocionais é que 2011 foi apenas mais um ano. Que coisas ruins aconteceram, mas muitas coisas boas também me cercaram. Que terminar mais uma etapa na minha vida ao lado das pessoas que amo, transforma esse ano no melhor de todos os anos. Assim como tenho certeza de que 2012 também será o melhor de todos os anos, por que eu escolhi isso! E é assim que as coisas irão ser daqui pra frente pra mim.

13 de nov. de 2011

Uma Estória de Fantasmas

- Mãe, a mulher loira está lá no banheiro.
- Heim? mulher loira?
- É, mãe! a assombração. Fantasma mesmo, sabe?
- Eu não acredito. Você fica lendo essas coisas na internet e agora não me deixa dormir. Vai deitar vai.
- Mas, eu quero fazer xixi...
- Então vá no banheiro e faça.
- Mas... é a mulher loira?
- Olha querido, mamãe teve um dia do cão. Muito trabalho, chefe pegando no pé... amanhã tenho reunião às 8:30 e são duas horas da manhã!
-...
- Você não vai chorar, vai? Ah, meu bem não faz assim... Mulher loira não existe, amor... é fruto da sua imaginação. Você pode ir no banheiro sossegado.
- Tem certeza?
- Tenho, querido. Agora deixa a mamãe dormir, por favor...
- Tá.

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- Mãe...
- O que foi agora, Rafael?
- É que a mulher loira quer falar com você. Ela disse que existe sim, e que você é uma mãe muito má por que me deixou ir sozinho no banheiro...
- Rafael, você fez o seu xixi?
- Fiz... no corredor...
- Eu não acredito! O que eu fiz para merecer isso! Faz uma coisa, deita aqui na cama com a mamãe e vamos dormir.

**********************

- Aonde você vai?
- Ao banheiro, filho. Essa conversa toda de xixi, acabou me dando vontade.
- Cuidado com a mulher loira, tá?
- Eu já falei, Rafael, mulher loira não existe!

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- A senhora é a mãe do Rafael?
- E quem é você?
- Eu sou a mulher loira, que você disse que não existia.
- Loira? Querida, você está mais para multicor. Que raízes pretas horrorosas!
- Você não está com medo de mim?
- Medo? Não, na verdade estou furiosa, você fez meu filho mijar no corredor! Afinal de contas, o que você está querendo por aqui? Seu negócio não é ficar assombrando colégio público?
- Era... mas com essa moda de traficante invadir colégio, ninguém mais tem medo de mim. O que é um fantasma quando se tem um AR15?
- Tem razão... mas eu acho que esse seu visual meio "riponga" também não deve estar ajudando muito. Esse cabelo desbotado, essa modelito horroroso... Ah, querida, você está meio caída!
- Você acha? Eu... eu... eu sempre usei essa roupa... desde que era uma fantasma iniciante.
- Então tá explicado! Isso tem quanto tempo? Nossa, quando eu era criança já ouvia falar em você! Não que isso tenha muitos anos... Afinal de contas, eu ainda não sou uma balzaquiana...
- Ainda não é? Sei... Mas o que vou fazer? Só sei ficar assombrando por ai... Se eu não conseguir mais fazer isso, vou ter que me aposentar... E você não sabe como é horrível aquele asilo para fantasmas...
- Ai... sabe de uma coisa, já vi que não vou conseguir dormir mesmo, acho que posso te ajudar. Deixa ver, precisamos pintar esse cabelo, arrumar umas roupas novas e arg! que unhas são essas?! A quanto tempo você não passa um esmalte nelas?
- Eu... eu não achava necessário...
- Esse é seu mal. Querida, se você não se cuida, ninguém presta atenção em você. O negócio agora é ser fashion, poderosa, entendeu?
- Mais ou menos... Acho que não vou conseguir ser essas coisas todas, não...
- Deixa comigo!

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- Pronto, agora pode se olhar no espelho.
- Você pintou meu cabelo de ruivo?!
- Claro, aquele loiro estava horrível, te envelhecia horrores.
- Mas... mas... EU SOU A TEMIDA MULHER LOIRA E NÂO RUIVA!
- Ei! Pare de gritar! Eu te fiz um favor! Você ficou uma gata ruiva. Nem parece ter a idade que tem! Além do mais. Está na hora de você se reciclar. Chega dessa coisa de ficar assustando criança em banheiro público! Ah, e quer saber? Eu estou muito cansada desse lenga-lenga. Vou dormir e você trate de ir embora daqui!
- Mas... mas...
- Nem mais, nem meio mais! Amanhã de manhã eu não quero ver vestígio de sua presença, ouviu bem?

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- Mulher loira? mulher loira?
- Xiiii! Fala baixo, senão sua mãe vai acordar e brigar comigo de novo!
- Ela brigou com você também, não é? Ela faz isso com todo mundo...
- Coitadinho de você, merecia uma mãe melhor...
- Nãaaao, ela é assim, mas é uma mãe muito legal. De vez em quando até vai passear comigo...
- Sei...
- E então, o que você vai fazer?
- Sei lá, acho que voltar para os banheiros dos colégios...
- Mas, e esse cabelo ruivo? Não dá mais para ser a mulher loira...
- Eu sei... Estou pensando em criar um novo mito... A Popozuda Fantasma, o que acha? Uma funkeira que morreu depois de ouvir música clássica e volta para aterrorizar geral cantando "Eguinha Pocotó" nos banheiros?
-...

10 de nov. de 2011

Felicidade Compartilhada

A felicidade, tão almejada (quase obsessivamente) por tantos, não vem num pacote fechado, somatória da equação: amor+casamento+realização profissional+maternidade+dinheiro+etc, até porque conseguir reunir numa única vida todos os elementos dessa equação, é dádiva restrita a poucos. 

Muitos passam a vida em busca dessa soma perfeita e vivem eternamente infelizes, uma pena. 

A felicidade não é um Santo Graal, algo externo a nós mesmos, que precisamos encontrar para nos acharmos. Eu diria que, ao contrário, precisamos nós achar, para tocar no cálice sagrado. 

Parece piegas, mas viver a vida saboreando os pequenos momentos felizes é muito mais eficaz do que essa eterna busca, que só traz angústia e, muitas vezes desilusão. 

Não é contentar-se com pouco, mas aprender que aquele pouco é muito. Que diariamente somos abordados por esses momentos felizes e cabe a nós abrir os braços para recebê-los.

O sorriso do meu filho, por exemplo, e uma descoberta que ele faça, nesse mundo novo que ele está a desbravar, é um dos meus muitos momentos de felicidade.


Um dia de bobeira frente a tv com marido, ou um passeio em família, com direito a sorvete e muita conversa  divertida.

Bate-papo furado nas redes sociais, com risadas garantidas e carinhos virtuais.

Uma tarde no meu spa mental com uma amiga querida, né Luci Cardinelli? Com papos animados e comidinhas gostosas.

Encontro no Centro para rever  amigas (as lindas Vanessa, Lin e Fernanda Reali) e conhecer novas (Josiana e Clara Miranda), trocar carinhos, conversa boa e presentes, mesmo de quem não está presente pessoalmente, mas no coração, né Elis? (Cadê você? saudade grande sua)
Baton e boneca de fuxico que a Elis mandou pra mim!

bloco lindo feito pela LolaSPFC  e canetas que ganhei no sorteio no blog da Fernanda Reali

Presente fofo que a JosianaJo me deu!

Tudo isso são momentos de felicidade para serem curtidos, relembrados e compartilhados. 

Por que, para mim, felicidade é isso e um pouco mais! É viver a vida, com a certeza de que ela é bonita! É bonita! É bonita! Mesmo que de vez em quando, ela apareça sem maquiagem, descabelada e sem unhas feitas.

Toda 6ª é dia de Pequenas Felicidades no blog Botõezinhos

5 de nov. de 2011

Poliana em Tempos de Crise


Cenas de um Divórcio
 Caiu a Ficha! - Última parte - por que ninguém está mais agüentando essa novela.


A ficha caiu no sábado depois de assinar os papeis do divórcio. Minha primeira providência após assinar a papelada, foi comprar uma cama nova. Fim do casamento e fim da era das camas infláveis! E, é claro, os amigos chegariam a noite, para comemorar minha solterice, disseram eles, (pra não me deixar sozinha, sabia eu, por que agora que a separação era definitiva, incluindo legalmente, tudo parecia estranhamente vazio) 

Havia marcado de sair com o pessoal, mas precisava deixar Betânia com alguém. Logicamente, pensei em Adalto, além de ser o pai, morava no mesmo prédio. - Ah, isso ainda não contei, meu querido, agora ex-marido, alugara um apartamento no mesmo prédio onde eu morava. Dissera que era pra não se distanciar das meninas, eu achava que era provocação... 
Logo cedo, bati na porta dele, para perguntar se poderia ficar com ela. Quem atendeu a porta foi uma adolescente. Tá! Tá! Não tão adolescente assim, uns dois ou três anos mais velha do que a filha mais velha dele!!!
Era uma guria de cabelos loiros, trajando uma camiseta (por coincidência, uma que eu havia dado para ele, de presente de casamento).
- Oi.
- Você é a faxineira? - eu não podia deixar de alfinetar.
- Não, tia. - Se a gente matar um garota que tem tudo no lugar e chama a gente de tia, pode ser considerado legítima defesa?
- Então você é a...?
- A senhora quer falar com ele? - Eu odiava muito aquela garota. Muito mesmo!
- Ele está? - Autocontrole. Muito autocontrole.
- Não. Foi na padaria, acho. Quer deixar recado?
- Não. - virei as costas, dei uns dois passos, pensei e depois voltei. - Aliás, quero sim. Diz que a esposa dele esteve aqui. - tecnicamente, ainda era a esposa, oras.
Sim, ser cruel é uma arte. E a sensação é maravilhosa. Principalmente ao ver a fedelha ficar branca que nem papel e engolir em seco. Vingança feita dei as costas e fui embora.

Em casa, claro, caí no choro. A ficha finalmente tinha caído. E eu percebia que estava sozinha com duas filhas para criar, que a gravidade tinha sido implacável com meu corpo, as gorduras localizadas, as rugas, os cabelos brancos e que eu tinha mais de trinta anos e que meu casamento tinha fracassado.

Somente agora percebia o vazio do apartamento. A imensidão da cama. Sentia uma dor tão intensa que parecia corroer tudo em mim.

Despertei da sessão de autopiedade ao ver o olhar assustado de Betânia. Resolvi que não podia fazer isso com ela, então tomei um banho, vesti uma roupa e decidi por deixá-la com a minha mãe.

Essa logo percebeu que algo não estava bem. Mas, pela primeira vez, ficou quieta, enquanto eu explicava que pegaria a menina no dia seguinte. Na porta, abraçou-me e disse baixinho, que tudo voltaria aos eixos.

Fui embora chorando. Uma cena ridícula, as lágrimas escorrendo e eu tentando disfarçar. Todo mundo no ônibus olhando para a minha cara. A senhora ao meu lado, me deu um papel da Assembléia de Deus e começou uma conversa de Cristo salva ou coisa parecida. Agradeci, mas resolvi fazer o resto do trajeto a pé.

Chorei tanto, que adormeci. Acordei com a campainha tocando estridentemente, o apartamento todo as escuras. Mal conseguia abrir os olhos de tão inchados, minha cabeça estourando.

Abri a porta e milhares de pontos de luz explodiram em minhas retinas. Ronaldo e Marlene com o dedo grudado na campainha.

- Hei, o que houve? Estávamos quase chamando os bombeiros...
- Você ainda não está pronta?
- Eu não vou...
Marlene acendeu a luz. Eu ainda tentei virar o rosto para que eles não vissem meu estado. Tarde demais...
- Você andou chorando?
Foi o que bastou. As lágrimas voltaram com força total. E eu que achava que não haviam mais.
- O Adalto está com outra! - Pelo menos foi o que tentei dizer, afinal, falar e chorar é uma tarefa extremamente complicada. - Uma fedelha loira e gostosona!
- Gostosona você disse? - Ronaldo perguntou.
- Cala boca! Não ta vendo que ela está arrasada! - Fui gentilmente empurrada até o sofá mais próximo, enquanto murmurava frase desconexas e de autocomiseração.
- Roni, liga para Wanda e fala que nós não vamos, explica o que houve.
Meia hora depois, Wanda chegou. Esbaforida e com uma garrafa de vinho.
- O que aconteceu, minha gente?
- Eu sou uma fracassada! Uma velha frustrada e fracassada! Meu marido me traiu com uma vagabunda de vinte anos! Ainda por cima loira!
- Ixi, que a coisa é séria!

Eles podiam ter me deixado ali. Podiam também ter ficado comigo e enchido o pote de vinho. Mas, não eram disso. Por isso, passado uma hora de lamentações e lamúrias, recebi um esporro fenomenal de Wanda e Ronaldo, enquanto Marlene me enfiou no chuveiro e me fez trocar de roupa. Acabei sendo arrastada para uma noitada. Minha primeira noite de nova solteira.
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NOVIDADE:  Poliana agora tem blog próprio e se você chegou agora e quer acompanhar a trajetória dessa heroína desde o inicio é só clicar em Poliana em Tempos de Crise e se divertir!

2 de nov. de 2011

Carinho pelo Correio

Coisa boa é ouvir o carteiro gritar seu nome e melhor ainda é receber uma caixa cheia de carinho e cuidado!

Mês passado participei do projeto de blogagem coletiva Há Amor Em Mim - promovido pela querida Elaine Gaspareto  e como ela adora dar presentes, foi realizado um sorteio entre os participantes, e eu ganhei! Alias, vai lá e vê no vídeo quem me deu sorte - doida pra dar um beijo nessas mãozinhas fofas! rs

E o prêmio era uma presentaço, uma BioJóia feita pela artista Bia Jubiart
Na foto o detalhe da pulseira feita com sementes de Jatobá e penduricalhos banhado em prata, a Bia explica aqui com mais detalhes:

Criei um conjunto especialmente para o evento: Semente de jatobá natural, com metalúrgica banho prata (dando um ar mais fashion e contrastante), suas seguidoras merecem! Quando for enviado, vai com uma ficha técnica em papel reciclado e com orientação para conservação da semente.


E as peças vieram todas embaladas em saquinhos reciclados, com bilhetinhos fofos escritos a mão pela artista! Coisa linda de viver!

Além do conjunto de pulseira e brincos, vieram dois marcadores de livro lindos demais! Um de renda de bilro colorido, que é a coisa mais delicada do mundo! Outro com sementes de açaí e coco tingido - também de uma lindeza, que só vendo! 

Além disso vieram dois fatiados naturais de babaçu, que já estou aqui maquinando como aproveitá-los para fazer um cordão, usando meus tecidos também! E um saquinho cheio de sementes de açaí lixadas que só não sei se uso para fazer uns móbiles com bichinhos nacionais ou se guardo e faço um cordão pra mim... Aceito sugestões! 

Eu só tenho a agradecer a Elaine Gaspareto que além de me permitir participar e me emocionar nesta festa de aniversário do Blog Um Pouco de Mim, também me proporcionou a chance de conhecer (e me apaixonar) pelas criações da Bia.

E a Bia Jubiart, agradeço pelas lindezas recebidas e pelo carinho! E eu se fosse você, corria lá pra conhecer as outras criações da artista, por que é cada biojóia mais linda do que a outra!