31 de out. de 2011

Vampiros - O Final

Alexander
Ele a vê através do vidro da janela. Madalena está sentada na beira da cama. Tem o olhar perdido. O corpo imóvel. De vez em quando, um tremor percorre-lhe o corpo. Parece tão frágil e desamparada.
- Vim buscar Madalena. - diz para o guarda.
- Foi você que pagou a fiança? - 
Ele afirma com a cabeça.
Madalena o fita, mas Alex não consegue enxergar o brilho de reconhecimento em seus olhos. Estão opacos e vazios. Sente que chegou tarde demais. Puxa-a pelas mãos, ela não oferece resistência, apenas segue em silêncio.
Eles agora estão no atelier dela. Um sentado frente ao outro. Ainda não emitiu um som sequer.
- Madalena... - ele a chama. - por favor, fale comigo...
Ela estremece. Até mesmo levanta os olhos em sua direção, mas depois volta à mesma expressão sem vida de antes. O olhar perdido em algum ponto distante.
Ajoelha aos pés dela. Encostando a cabeça em seu colo. Tão bela. Acaricia seu rosto e cabelos que caem em sua face delicada.
 - Desculpe-me... Desculpe-me... - chora. Uma culpa profunda em seu coração. ­ se eu pudesse voltar ao passado... você não sabe o quanto eu me arrependo... ainda lembro de quando te conheci. Não parecia ter mais de quinze anos. Estava vagando pelas ruas. Alguma coisa em você me chamou a atenção, não sei explicar.
Senti que você também era uma criatura amaldiçoada, os condenados a mais profunda solidão e às trevas... você estava confusa e eu a trouxe para mim. Eu a amei tanto, como eu não sabia ser capaz de amar. Você era como eu, embora humana. Eu não conseguia entender... então chegou aos meus ouvidos a estória de uma menina, por quem um ancestral se apaixonara, um demônio tão poderoso, quanto milenar, um vampiro como eu, mas mais forte que qualquer um de nossa raça. Ele havia se apegado a uma mortal e a colocado sob a sua proteção. Um dia ela fugira... eu soube na hora que a menina era você e que quando ele soubesse de seu paradeiro, a roubaria de mim. Mas não iria permitir... eu não podia... então fugi com você para o Brasil e te deixei na casa de um casal de mortais. Apaguei todas as suas lembranças e passado... construí em sua mente frágil de mortal uma estória de menina feliz, filha de amorosos pais.
- Mas ele descobriu tudo e com a ajuda do criado, matou seus falsos pais. Eu estava lá e vi quando ele revelou sua verdadeira face para você, criança, uma face de dor e loucura... eu entrei na sala, disposto a intervir... consegui matar o empregado dele... queria te proteger. Tirar você dali a qualquer custo... mas ele era mais forte do que eu...por uns instantes, achei que ele fosse me matar... mas ele não fez isso. Apenas gargalhou. Ainda sonho com aquele riso horroroso... ele apenas gargalhou e disse que não te levaria naquele momento, que eu poderia ter você, mas que um dia ele voltaria e tiraria sua alma.
Por uns momentos Alex revive o passado, a voz do demônio ecoando pela sala: “Ela é como eu... um dia você verá a besta surgir dentro dela... ela vai com você agora, mas irá voltar para mim. Por que ela é minha! Minha! Pobre idiota!!!”
Então ele sumira, deixando Alex sozinho ao lado de três cadáveres e uma menina em choque. O dia amanhecia e ele partira, o sol era seu pior inimigo, deixando para trás um legado de dor e lágrimas para a mulher que amava.
- Você não foi a julgamento por ser menor de idade e eu consegui abafar as investigações pagando propina para policiais, advogados e juízes. No final o pobre infeliz do serviçal levou a culpa do crime e tudo ficou por isso mesmo. Levei-te de volta para os Estados Unidos, sabendo que o germe da loucura crescia em suas entranhas, e eu nada podia fazer! Um dia, você quis voltar, eu sabia que era o demônio que te chamava, e minha covardia impediu-me de reclamar-te para mim. Deixei que retornasse, mesmo sabendo que te perderia...
- Já não me ouves mais... vejo em teus olhos que a fera já possui tua alma, mas eu ficarei ao teu lado, ao teu lado minha amada, até a eternidade nos reclamar...
Ele pára de falar. Cansado e abatido. Lágrimas escorrem em seu rosto, sangue. Madalena o fita. Um brilho no fundo dos olhos. Passa a mão sobre os cabelos do homem ajoelhado aos seus pés. Alguma coisa se rompe em definitivo em sua alma. O mundo torna-se distante. A dor penetra por todos os poros. Ela vê o demônio estendendo-lhe os braços no fim do corredor. Ela caminha em sua direção...

Capítulo V
Noites no Abismo
Doutor Pedro
O doutor passa a mão pelo rosto. Madalena, ou melhor, Eleanora, uma jovem artista, linda. Enlouquecera após o assassinato dos pais... se fosse simples assim. Ainda se lembra do caso. Ninguém nunca fora capaz de explicar como matara a mulher e o jovem, tampouco a ausência do sangue nos corpos das vítimas. A última pessoa a ouvir sua voz fora o delegado. Segundo ele, ela confessará os crimes e se calara, para sempre... 

Mas havia coisas que ele não consegue entender, ou melhor, não quer entender, sua sanidade assim exigia: O vulto no quarto de Madalena, isso ele não quer entender. A sombra que surge todo o entardecer e passa a noite ao lado dela... ou as crises que às vezes ela tem, quando  presas extremamente pontiagudas crescem na lateral de sua boca. Ou o fato dela continuar tão bela e jovem como quando chegara ali, o tempo não a atingindo... Em breve ele irá se aposentar... não vale a pena tentar conhecer o que não quer ser conhecido, o melhor é fingir que não existem, mesmo sabendo que ele estão lá, às vezes do nosso lado.

30 de out. de 2011

Vampiros - Capítulo IV


O delegado olha a mulher a sua frente. Uma dessas grã-finas da zona sul. Cabelos louros, olhos claros. Uma dor de cabeça se insinua. Pega o copo de café e oferece. Ela recusa.
Madalena está nervosa. Abraça a bolsa fortemente ao corpo. O delegado a olha, ela lembra alguém...
- Então, você sabe quem é o assassino misterioso? - pergunta o delegado. Bebendo um gole de café.
- Sim.
- E quem é? - mais uma maluca, pensa. É a décima que diz saber. Outros já vieram, dizendo serem o assassino. Até um que dizia ser um vampiro. Teve também o profeta, falando do sinal dos tempos...
- É o mesmo homem que assassinou meus pais.
Uma faísca de interesse. Talvez ela não seja maluca. Talvez ela saiba realmente de alguma coisa...
- Seus pais foram assassinados?
- Há cinco anos.
- Seu nome é Madalena? - pergunta conferindo a ficha que lhe passaram.
- Não é meu nome verdadeiro, eu me chamo Eleanora. Troquei de nome quando sai do país. Eleanora do Amaral Mesquita.
O delegado para um minuto. Amaral Mesquita? Conhece o nome... lembra-se de alguma coisa, estava começando quando acontecera o assassinato... fora um caso comentado.
- Moça, como sabe que o assassino é o mesmo dos seus pais? - alguma coisa não estava se encaixando, precisa pedir ao assistente a ficha do caso Mesquita.
 - Eu o vi. - Madalena sabe que precisa se controlar agora. Se desabar, o homem a tomaria por maluca e não acreditaria nela. Respira fundo, pensa no que vai dizer. – Eu o vi matando aquelas pessoas.
- Você viu? - o delegado está surpreso - as duas?
- Sim.
- E como ele as matou? - seu tom de voz soa irônico. É uma pena, parecia ser uma possível pista. Por que ele ainda achava que a conhecia?
- Ele as sugou, como um vampiro... - sabe o quanto soou ridícula aquela afirmação. Fita o delegado, percebe a sobrancelha se arqueando.  - eu sei que parece loucura o que estou dizendo, mas é a verdade. Eu o vejo, por que estou dentro dele. Eu sinto o prazer dele quando os mata...
O delegado está riscando algo no papel. Não acreditara nela. Ninguém acreditaria.
- Desculpe tomar o seu tempo... – Madalena se levanta, pronta para partir.
Ele a olha. Alguma coisa que ele não sabe explicar o faz detê-la.
Ele as mutilou, não foi? – não sabe porque faz aquela pergunta, mas uma hipótese começa a se formar em sua mente.
- Não... ele não os mutilou, ele sugou o sangue deles, mordendo o pescoço da mulher e o antebraço do rapaz.
O delegado arfa, ansioso. Alguma coisa, alguma coisa realmente não se encaixava. Fora uma pergunta capciosa, e o tipo da informação que ela dera, só a policia e os legistas sabiam.
Você se incomoda de sentar-se novamente? E, pode me dar um minuto?
Madalena sente a mudança no comportamento do homem. Ansioso demais, condescendente demais... mesmo assim, senta-se e espera.
Ele volta, algum tempo depois. Traz uma caixa. Tem o rosto modificado. Uma estranha excitação o consome. Senta-se na mesa e olha a mulher a sua frente.
- Eleanora, não é? Ou prefere Madalena?
- Tanto faz.
- Você disse que o homem que matou a mulher e o garoto é o mesmo que assassinou seus pais? Não foi isso?
- Sim, foi o que falei.
- Importa-se de me contar como seus pais morreram? Faz muito tempo, e não me lembro direito. Além do mais, - aponta para a caixa. - meus arquivos estão bastante bagunçados.
Ela sabe que há algo errado. Não sabe dizer o que é. Sente-se testada.
- Esse homem entrou em minha casa e matou meus pais. Eu estava no quarto, ouvi gritos. Quando cheguei na sala, minha mãe e meu pai estavam mortos.
Ele estava sobre meu pai, terminando de matá-lo, eu acho... - sua voz se embarga ao relembra a cena. - então, eu comecei a gritar e a gritar... sinto muito, mas eu só lembro até ai. - enxuga as lágrimas com as costas da mão. - mas eu vi aquele rosto, eu nunca poderia esquecê-lo. Nunca...
- E esse homem agora voltou e matou duas pessoas?
- Eu o vi! Eu sei que é ele. - as lágrimas escorrem agora em profusão pelo seu rosto e ela não se preocupa mais em secá-las.
O delegado joga uma foto em sua direção. Uma foto de um homem branco, de olhos e cabelos castanhos. Um desconhecido...
- É esse o homem de que você fala?
Ela nega com a cabeça. Nervosa demais para emitir sons.
- Como não reconhece? Foi ele que matou seus pais, Madalena ou Eleonora... foi esse o homem. O nome dele é Jacó e está morto. Morto! E sabe como?
Ela nega com a cabeça. As palavras dele ecoando em sua mente.
- Assassinado. Foi assassinado por uma menina. Uma adolescente de quinze anos. - ele a olha fixamente. - você! Sabe, depois que você viu seu pai e sua mãe mortos, você foi até ele e o matou... você não lembra? Este homem morreu há cinco anos atrás, por suas próprias mãos...
- Não foi ele... não é a mesma pessoa...
- É claro que é, Madalena. As impressões digitais dele estavam por toda parte. E quando a policia entrou na casa, você chorava em um canto, suas mãos cheias de sangue e três cadáveres no cômodo. - ele suspira. E puxa um desenho de dentro de uma pasta. Um rosto de mulher. - reconhece?
Seu coração agora está preste a explodir. Segura o desenho com as mãos trêmulas. Olha o desenho, sem conseguir entender. Ali estava o seu retrato, mal desenhado. Tosco e um pouco impreciso, mas não têm como ter duvidas, é ela...
- O que significa isso? - sussurra.
- É o retrato falado do assassino da mulher e do jovem. Demorei a reconhecer você quando chegou aqui. O desenho não faz jus a sua beleza. Alguém te viu, Madalena...
- Você está achando que eu sou a assassina daquelas pessoas!? Não! Eu não as matei, foi ele... foi ele! Eu vi!
O delegado acende um cigarro. Quase sente pena. Uma maluca. Tinha uma história triste como pano de fundo, mas nada que justificasse o assassinato de pessoas inocentes.
A mulher se encolhe sobre a cadeira. Seu corpo tremendo compulsivamente. Não consegue encarar o delegado. Sua mente é um turbilhão de imagens distorcidas. Vê o homem, mas agora é ela que se debruça sobre a mulher, então é o homem de novo. Imagens passam como um flash. Vê a si mesma gritando, enquanto o homem mata seus pais diante de seus olhos.
- Você tem algum parente no Brasil? - o delegado interrompe sua aflição.
- Não... - sua voz ecoa distante.
- E nos Estados Unidos? Foi para lá que você foi, não é?
-Alex... Alexander Johnson.
- Ele tem telefone?
- Eu não matei essas pessoas... você precisa acreditar em mim...
Por uns instantes ele gostaria de acreditar. Mas não tem dúvidas. Ela matara aquelas pessoas. Tem um retrato falado, e uma quase confissão.
- Gostaria de acreditar. - está sendo sincero quando fala. - mas não posso... você viu o retrato, além do mais, somente o assassino e o legista poderiam dizer com tanta precisão sobre as perfurações das vítimas...
Ela o olha em silêncio. Seus olhos distantes e confusos. As lágrimas escorrendo na face. Abre a bolsa e entrega-lhe a agenda.
- Aqui tem o telefone de Alex.
O delegado pega, também em silêncio e a deixa só na sala.

28 de out. de 2011

Vampiros - Capítulo III


Capitulo III

Ela vê o avião partir. Uma sensação de solidão a invade. Fora bom ficar com Alex essas duas semanas. Conversara com ele a respeito do pesadelo. De como estava se sentindo assustada. O medo ressurgindo, ameaçando-lhe a sanidade, duramente conquistada. Agora, ele ia embora. Não sabe porquê ficou. Melhor seria ter ido com ele. Tanto que insistiu, pediu, implorou até... mas ela decidira ficar. Recomeçar. Enfrentar seus medos mais profundos, o analista recomendara.
Quando o avião perde-se no horizonte, ela resolve ir embora. Ainda quer passar em uma papelaria, vai comprar tintas, telas... voltar a pintar. Os pesadelos agora são coisas do passado, pensa. Acabou. E, se voltarem, saberá que são apenas pesadelos. E que acabam, quando surge o dia. Mas, se nada der certo, ainda tem Alex, de braços abertos, esperando por ela, em um outro país.
Enquanto dirige, ela lembra. Agora não quer mais esquecer, é preciso lembrar para superar.
Chega em casa ao entardecer, a luminosidade faz com que acenda dentro dela à vontade de pintar. Troca de roupa e vai para o atelier. Por alguns minutos fita a tela branca, sem saber o que fazer. E então, a idéia surge (ela sempre achara esse momento mágico) e começa a traçar o desenho com carvão.
Horas depois, ainda continua a riscar, quase compulsivamente a tela, aos poucos uma paisagem se destaca no emaranhado de riscos que faz. Suas mãos estão dormentes, mas não consegue parar. Uma vertigem prazerosa a impulsiona.
Por uns instantes, um piscar de olhos e ela já não está mais no atelier. Encontra-se encostada em um muro, na esquina de uma rua mal-iluminada. Sente um cheiro estranho no ar. Suas narinas se excitam com a fragrância. Embora, esteja de noite e a rua esteja escura, ela enxerga perfeitamente. Ouve passos. Passos de mulher. Fome... o cheiro de sangue invade-lhe os sentidos. Apruma-se rente ao muro, e observa: uma mulher caminha distraída na sua direção. Sente a adrenalina invadindo-lhe os sentidos. É uma caçada. A presa se aproxima... puxa a mulher com um gesto rápido, caindo sobre ela. O cheiro do medo deixa-lhe extasiada. Sua mão está sobre a boca da mulher, a outra usa para imobilizá-la. Curva-se sobre a fêmea, a saliva escorrendo das presas que crescem em sua boca. Delicadamente crava os dentes na pele macia do pescoço da sua presa. Suga-a e um prazer supremo a invade. Suas células se regojizam, seus sentidos apuram-se, sente-se quente e forte.
Então vê seu reflexo na pupila dilatada de sua vitima. O homem! O assassino de seus pais! Rola desajeitadamente de cima da mulher. Está imóvel. De joelhos aproxima-se dela. Uma palidez mórbida na sua face. Morta...
- Não! Não! Não!!!!
Acorda com seus próprios gritos. Seu corpo coberto de suor. Corre para o banheiro vomitando. Depois se encosta ao ladrilho frio, abraçando-se e então chora. Um choro desesperado e aflito.
Voltar a fazer análise. A única saída. Tem medo de dormir. Toma estimulantes diversos, caminha por horas e horas pelas ruas, sempre que anoitece, com medo de voltar ao atelier. Por isso, está ali agora, em um consultório, aguardando a hora da consulta.
Folheia uma revista distraidamente, quando uma noticia salta aos seus olhos: é sobre uma mulher encontrada morta. Assassinada. O mistério: nenhuma gota de sangue no corpo... Madalena sente o coração apertar enquanto lê a noticia. Seu corpo tremendo de pavor. Pega a bolsa e a revista e sai às pressas do consultório.
Enquanto dirige, seus olhos buscam a matéria. Repete, exaustivamente, a possibilidade de uma coincidência. Uma macabra coincidência. Foi apenas um sonho... apenas um pesadelo.
Chega ao atelier, completamente desestruturada. Sentada no sofá, o olhar fixo na tela, onde uma mulher luta contra uma fera que a ataca. A mulher... a mulher morta da revista é a mulher da sua pintura. A mesma pessoa...
A noite chega, ouve o som da rua lá embaixo: vozes, carros, música... a vida normal de pessoas normais. Por que com ela não era assim? Lê novamente a matéria da revista. Tenta ver em que dia a mulher morreu, mas não há datas... bebe um gole de whiskie no gargalo da garrafa. A bebida desce quente por sua garganta, dando-lhe um pouco de alivio. Bebe mais e mais... aos poucos, uma dormência gostosa invade seu corpo.
Está a espreita de novo, mas agora sabe que não é ela. É como se estivesse no corpo de outra pessoa. Dele! O homem de seus pesadelos. Vê a rua deserta, sente o cheiro da presa que se aproxima... está dentro dele e não pode controlá-lo!
Sabe que ele vai matar de novo. E que não é um pesadelo! Seu medo assume proporções imensas. Não é real... não é real... mas a vítima agora está tão próxima. Quase ao alcance de suas mãos (dele/dela?) O desespero invade Madalena. Pode senti-lo em sua excitação. O prazer percorrendo seu corpo, antegozando o gosto de sangue. O calor de uma vida se esvaindo. Ela está à beira da loucura agora.
Sua razão se indo, na mesma proporção dos passos da vitima. Sem que possa evitar, ele cai sobre a presa, um jovem vindo da escola talvez. Uma criança, cujos pais irão esperar e esperar a sua volta, a qual nunca acontecerá.
Quando o sangue entra-lhe pela boca. Madalena sente o prazer, não o seu, mas o do homem que a abriga. Como um voyeur, ela o vê saciar-se. Está como hipnotizada. Não consegue se livrar daquela visão. Sente-se tonta. Enjoada. Luta desenfreadamente para sair, mas está aprisionada. Tão sugada, quanto o jovem que definha a sua frente.
Então o rapaz fica imóvel e uma neblina cai sobre ela.
Quando volta a consciência, está novamente em seu atelier. Um gosto metálico na boca. Um quadro inacabado retrata o pesadelo que acabara de vivenciar. O relógio marca quatro horas da manhã. Ela treme compulsivamente. Por alguns momentos, não sabe onde está e embora reconheça todos os objetos do atelier, estes já não lhe oferecem nenhuma sensação de realidade.
- É um pesadelo... apenas um pesadelo... a realidade é diferente. Não existem pessoas que se alimentam de sangue... esse  homem está preso... - recita frases diversas, buscando encontrar um nexo qualquer, um vínculo com o mundo real.
Já faz muito tempo. Cinco anos. Ela só tinha quinze anos, quando tudo aconteceu. Uma noite, uma tranqüila noite de verão. Acordara com um som abafado, vindo da sala. Lembra-se de caminhar até lá, da mãe caída, sangrando no chão e um homem desconhecido sobre o pai... então não se lembra mais... não lembra mais... por quê? Por que, meu Deus, por quê? Precisa lembrar. Se lembrar o pesadelo acaba. Precisa lembrar-se!!!!
Lembre-se. – o policial pedira – diga-me criança, o que você viu. Você precisa lembrar... o que aconteceu?
O que aconteceu?... nunca fora capaz de lembrar o que acontecera aquela noite. Só os pais estendidos no chão. Mortos... e o assassino. O homem dos seus pesadelos.
Dorme no chão do atelier. Anestesiada pelo cansaço.
A manhã a acorda com seus sons. Sente o corpo moído pela noite mal dormida. Fragmentos do pesadelo invadem sua mente perturbada. Sabe que precisa levantar, tomar um café, comprar jornal. Uma rotina imposta que lhe ajudaria a evitar a invasão da loucura. Mas, não consegue. Continua prostrada no chão. Angustiada demais para se mexer. Lentamente obriga-se a levantar. Lágrimas escorrem do seu rosto enquanto prepara o café. Está cansada. Muito cansada. Pensa pela primeira vez em voltar para casa, para Alex.
Fora ele que cuidara dela após a morte dos seus pais. Lembra-se dele tomando todas as providências, o braço forte no enterro. Depois a viagem para os Estados Unidos. A mão amiga nas noites de pesadelo. Sempre Alex... sentia tanta falta dele agora.
Mesmo quando ela decidira voltar ao Brasil, ele compreendera. Pedira que não viesse, mas diante da sua obstinação, não hesitara em acompanhá-la e ajudou a montar toda a infra-estrutura da sua volta. E, recentemente, quando ela caíra doente, ele viera em seu socorro. Se ela voltasse, talvez os pesadelos ficassem para trás.
Não... ela sabe que não.. o pesadelo nunca acabaria. Não enquanto ela não fosse suficientemente forte para olhar para trás e enterrar seus mortos.
Liga o rádio. Distrai-se ouvindo músicas não muito agradáveis. Termina de tomar o café e decide tomar banho.
Está no chuveiro quando ouve a notícia: mais uma vítima do assassino misterioso. Um jovem de quatorze anos fora encontrado morto. Aparentemente sem sangue... o assassinato acontecera durante a madrugada.
Madalena desliga o chuveiro e enrola-se a toalha. Senta-se na beira da privada, absorvendo o que ouvira. Seu estomago revira e ela vomita descontroladamente.
Agora ela sabe... não era um pesadelo. Era real... veste-se apressadamente e sai. Decidida a colocar um ponto final naquilo.

27 de out. de 2011

Vampiros - Continuação


2ª Noite
Madalena acorda. Está deitada em uma cama que não é a sua. Percorre com os olhos o quarto, não é o seu. Uma mulher está em pé na beira da cama. Tem nas mãos uma prancheta. Hospital! Como foi que chegou ali? Tenta falar, mas da sua garganta soa um estranho sibilar.
- Então, acordou? - a mulher pergunta, aproximando-se.
- Madalena afirma com a cabeça. A mulher coloca um termômetro em sua boca.
- Esta dormindo há três dias.
 Três dias? O que estava acontecendo? - Tenta se sentar. Mas a mulher a empurra de volta para a cama.
- Não é recomendável esforço.Você está muito fraca. Chegou aqui praticamente desidratada.
Enquanto fala, a mulher (enfermeira?) lhe dá um liquido de cor esquisita para beber. Depois a ampara com a mão e coloca um copo d’água em seus lábios. A água refresca-lhe a boca. Quer falar com a mulher, mas esta já está de pé na porta.
Sente seu corpo gradativamente se anestesiar. Não quer dormir. Luta bravamente, mas seus olhos pesam. Ao longe, ouve alguém chamando seu nome.
Está novamente no corredor. As mãos a empurrando gentilmente para frente. A escuridão a envolve de novo. Ouve sussurros, sente o visgo no chão. Quer gritar, mas não consegue. Sua voz é  um fio que morre na traquéia. Caminha às cegas, deixando-se conduzir pelas mãos. Sabe o que a espera no fim do corredor... mas está fraca e tonta. O vento chega com seu odor fétido, o ar fica denso. Agora não vê mais descampado. Está sobre um monte. Vê as luzes de alguma cidade lá embaixo. Aos poucos seus olhos se acostuma a escuridão e ela pode ver vultos, milhares deles que erguem as mãos e clamam por ajuda. Quando olha para seus pés, vê que o monte é feito de ossos, muitos e muitos, o sangue escorrendo entre eles.
O homem chega em silêncio por trás. Ela só o percebe, quando ele a toca nos ombros.
         - Vê? Isso tudo será seu.
Ela vira e o encara. Os olhos dele são como breu. Sente-se sugada para dentro deles. O mal. Vê homens matando outros homens. Mulheres com facas na mão e sede de sangue nos olhos. Crianças de olhares angelicais que gargalham sobre corpos inanimados... por todo o lado que olhe só vê morte. Dor. Violência. Lágrimas...
Ele a segura por um dos braços. Acaricia lugar onde antes ele mordera. Desce seus lábios novamente sobre seu antebraço. De novo crava os dentes. Dessa vez ela não sente dor. Um estranho formigamento apenas. O sangue quente escorre por sobre a sua pele. Ele levanta o rosto. As presas manchadas de sangue.
- Só mais uma noite Madalena e você será minha. Para sempre...
Ela grita. Sua voz ecoando no quarto desconhecido. Uma luz se acende. Vê a silhueta de uma mulher.
- Você está bem? - a enfermeira pergunta, tirando sua temperatura.
- Água, por favor...
A mulher encosta um copo em seus lábios ressecados. Uma dor suave percorre sua espinha.
- Beba devagar, seus lábios estão muitos feridos.
- Por favor... onde estou?
- Em um hospital.
- Como vim para aqui?
- Estranho... você chegou sozinha. Tinha muita febre. Estava desidratada. Não é bom ficar falando. Tente dormir.
- Não... ele vai voltar!
- Ele?! Ora, você teve um pesadelo. Acho melhor lhe dar um calmante.
- Não! Por favor, não me deixe dormir!!!!
A mulher injeta alguma coisa no frasco de soro preso em seu braço. O sono chega suavemente. Seu corpo sendo tragado por uma agradável sensação de paz.

3ª Noite
Ela acorda. Um silêncio absoluto fere seus tímpanos. Sua respiração ofegante é o único som que chega aos seus ouvidos. Um calor invade seu corpo, joga os lençóis para fora e tenta levantar-se. Sente-se muito fraca, o quarto rodando ao seu redor. Mesmo assim, levanta-se, apoiando na cama.
Caminha pelo quarto escuro, tateando até encontrar a porta. Abre-a. O corredor do hospital é longo e mal iluminado. Chama por alguém. O silêncio lhe responde. Ninguém. Caminha, escorando-se pelas paredes. Vira para a direita na direção do balcão da recepção. Os aparelhos ligados lhe transmitem uma  sensação de ausência temporária. Um pouco mais à frente, uma porta aberta, chama a sua atenção.
         - Enfermeira... - Madalena chama. No fundo do quarto, uma mulher está de costas, observando a janela.
Aparentemente esta não a ouve. Madalena entra no quarto, tornado a chamar a mulher. Ouve o barulho da porta fechando atrás de si. Um arrepio percorre sua espinha.
 - Enfermeira? - chama de novo, tentando controlar o pânico que se insinua em sua mente.
- Madalena?...
Então o quarto subitamente escurece, ou será uma vertigem? Madalena sente o chão fugindo de seus pés. Caminha vagarosamente para trás, o olhar preso na mulher, que lentamente se vira.
Uma onda de pavor a invade. Sente o grito se avolumando na garganta. O rosto que a fita, um rosto estranhamente conhecido, tem com corte profundo que vai da têmpora direita, até o maxilar. Um ferimento semelhante no abdome, o sangue escorrendo dos cortes. O braço, que a mulher agora estende em sua direção, está coberto de lacerações diversas.
- Mamãe... - Madalena sussurra. Caminhando na direção da mulher. Sua mãe... ela a abraça, chorando em seus braços. Desajeitadamente, ela tenta estancar o sangue.
- Eu sabia que você não iria nos abandonar... - murmura a mãe. - seu pai... seu pai está lá dentro com ele, você precisa salvá-lo.
- Eu não posso... eu não posso...
Sua mãe a fita, um olhar de profundo desapontamento e dor. Ela sente o coração se apertar. Sabe o que irá ver, se entrar na sala onde está seu pai... o olhar que a mãe continua lançando em sua direção faz seu corpo estremecer. Reúne então o máximo de coragem que possui, e caminha na direção da porta. Com um gesto decidido, torce a maçaneta. A porta se abre lentamente, silenciosamente. Ela entra, não ela, mas uma adolescente, não mais de quinze anos. Veste uma camisola de algodão. Sua mente invadida por lembranças que ela se esforçara por enterrar o mais profundamente possível: sua mãe está caída em uma estranha posição sobre o azulejo, uma poça de sangue escorre em direção ao ralo. Mais à frente, ela vê o pai. Sobre ele, um homem. A criatura de seus pesadelos. Ela realmente o conhecia. Como pudera se esquecer?- pensa, recriminando-se. Como?
O homem a fita. Ela corre de volta à porta. Tenta abri-la, a maçaneta escorregando nas suas mãos molhadas de suor. Ouve os passos dele se aproximando. Esmurra a porta agora, grita por socorro. A sombra do homem projeta-se sobre ela. Quando a segura, com apenas uma das mãos, ela grita e esperneia, debatendo-se desesperadamente.
Madalena pode ver o rosto do homem, pode ver as presas salientes no canto da boca. Sua lógica grita-lhe a impossibilidade da existência de semelhante ser, mas os dentes rasgando-lhe a pele fina do pescoço é bastante real.
Sua mente gira em um turbilhão de sensações e terror. Fragmentos de razão ainda insistem em manifestar-se. Mas o homem a suga, numa velocidade aterrorizante... a realidade, tal como um dia ela ousou acreditar, é um porto longe, muito longe...
Hospital
Já é dia agora. A luz penetra por entre as frestas da persiana. Madalena acorda. Sente-se um pouco melhor. Com algum esforço consegue se sentar na cama. A porta do quarto se abre e a silhueta de um homem destaca-se.
- Que bom que acordou.  - o homem se aproxima, é um senhor de meia-idade, com longos cabelos brancos presos em um rabo de cavalo. - e então? Como estamos?
- O que aconteceu? - ela pergunta. Já não sabe mais se este é apenas um pesadelo ou não. A realidade agora é um fardo difícil de suportar.
O médico senta-se em uma cadeira na beira da cama. Anota algo no prontuário.
- Você estava com uma virose um pouco mais violenta do que as habituais. Ficou uma semana com uma febre bastante alta, intercalando fases de delírio e consciência. Mas, ao que parece, já está melhor. Quero recomendar alguns exames.
Tem alguma coisa estranha no seu sangue. Não posso dizer se é sério. Somente depois dos exames feitos, conversaremos melhor. Certo?
Madalena afirma com a cabeça. O pesadelo acabara. Os pés finalmente tocaram o chão.

25 de out. de 2011

Vampiros - capítulo II

Capítulo II

Antes do Abismo - Madalena

1ª Noite

Ela caminha por um corredor negro. Não há luz, nem som, apenas um imenso manto negro que recobre seu corpo. Segue adiante, não querendo, mas segue. Mãos pegajosas saem das paredes e a acariciam, empurrando-a para frente. O toque delas dá-lhe ânsia de vômito. Um imenso mal-estar invade seu corpo. A escuridão a envolve num denso abraço, quase úmido. Sente sob a sola dos pés a superfície viscosa do chão. Ouve agora sussurros, seu nome é entoado como um mórbido mantra. Um vento frio e fétido sugere o fim do corredor. Seu coração bate descompassadamente e grossas lágrimas escorrem do seu rosto. O pânico invade sua mente. Em um ato de desespero busca se agarrar nas paredes e impedir seus passos de continuar. Mas agora as mãos estão mais fortes e a empurram com mais firmeza. O fim do corredor se aproxima e ela sabe que lá está o Mal na sua forma mais obscura e tenebrosa. Tem medo da loucura que se aproxima, esta no limite da sua sanidade. Precisa parar. Voltar! Mas, não consegue... grita. Seus gritos misturando-se aos gritos de dor que ecoam por todos os lados. Quando o corredor acaba, um amplo descampado ergue-se a sua frente. No alto do monte, um estranho trono feito de crânios humanos, onde um homem está sentado. O chão é repleto de fendas, onde o sangue brota em profusão. O céu tem uma estranha tonalidade violácea. Os gritos agora são ensurdecedores. Quer tampar os ouvidos, fechar os olhos, fugir de alguma maneira daquele lugar. Ao invés disso, seu corpo flutua até o trono, onde o homem a saúda. Ele pronuncia seu nome, seu timbre de voz, forte e vigoroso e como se obedecesse a uma ordem, ela olha para ele. O mal. Seu corpo é invadido por uma enorme sensação de repulsa e de dor, quando ele sorri.

- Madalena... - ele sibila. Uma voz conhecida. Um rosto conhecido. Onde vira aquela face?
- Enfim, Madalena... enfim nos reencontramos.

A loucura agora está muito próxima, ela sabe que no momento em que ele a tocar, o seu mundo vai se dividir em milhares de fragmentos e que nunca, nunca mais, será possível reorganizá-lo... como antes... como muito antes... de onde ela o conhece? Será ele parte dos muitos mundos criados por ela nos dias de pesadelo?

O homem invade a mente da mulher. Lágrimas escorrem em profusão pelo rosto dela. Ele a segura, com uma delicadeza que ela achava não existir em um ser tão asqueroso. Pega seu braço e encosta os lábios na palma de sua mão, sua língua escorrendo em direção ao seu antebraço. Ela sente o hálito quente do homem, a aspereza da língua... e então a dor. Ele crava os dentes em sua pele. Primeiro ela sente uma estranha dormência, depois sua pele sendo perfurada por dois pequenos punhais, que afundam com firmeza e determinação em sua pele macia.

Sua mente gira em um turbilhão de sensações: medo, dor, loucura... sabe que está se fragmentando. Milhares de pedaços que agora giram incontrolavelmente em sua mente.

Lentamente ele levanta o rosto e a fita, o sangue escorrendo de duas presas sob seus lábios. Ele ri. O pânico quebra o torpor da mulher. Ela grita, uma, duas, milhares de vezes, seus gritos ecoando pelo descampado.

- Minha Madalena. Você é minha!!!!

Sede, dor... sede... sente sua pele queimando... passa a mão pela boca e percebe que está rachada em diversos lugares. Absolutamente ressecada. Tateando, consegue acender a luz e a meia luz consegue saber que está em seu quarto e uma confortável sensação de familiaridade a invade. Respira aliviada e levanta-se, um tanto quanto bruscamente, seu corpo febril bamboleia. Senta-se na beira da cama e espera diminuir o acesso de tremor que a invade. Pega dentro da gaveta, na mesa de cabeceira o termômetro: 40º. A febre anestesia sues sentidos. Mesmo assim, sente uma imensa dor no corpo. A cabeça explode. Toma uma aspirina e deita de novo.

O resto da noite ela passa imersa em um torpor quase delirante. Fragmentos do pesadelo surgem e dissolvem-se diante de suas pálpebras.

Continua....

23 de out. de 2011

Vampiros

Em comemoração ao halloween, essa semana será de arrepiar aqui no blog! Em capítulos vou apresentar a vocês a Madalena e uma história de vampiros, sem romances e purpurina. É um conto antigo, anterior ao modismo fashion dos vampiros. Foi escrito em 2001. No domingo, dia 30 - colocarei o último capítulo e disponibilizarei o conto em pdf para baixar. 

E uma última recomendação: é um conto forte, bem diferente dos que costumo postar por aqui, se essa não é sua praia, recomendo não ler.

Vampiros

Capitulo I
Doutor Pedro
O velho médico olhou o rapaz a sua frente. Parecia bastante assustado. Trazia uma das mãos em uma atadura e marcas de sangue no jaleco. Além da mão enfaixada, tinhas escoriações no rosto e nos braços. Era bastante jovem. Não devia ter mais de vinte e cinco anos.
         - Sente-se. - pediu o médico, indicando a poltrona. - Quer alguma coisa para beber? Água, café?
         - Café, por favor. - o jovem aparentava não se sentir muito à vontade ali na sala do diretor. Pedro, o médico sabia o quanto aterrorizava os funcionários, não que isso lhe incomodasse, mas queria o jovem à vontade. Só assim poderia saber exatamente o que acontecera.
         - Ninguém avisou sobre Madalena? - perguntou, sentando-se atrás da mesa, na frente do rapaz. - se não me engano, proibi terminantemente a entrada no quarto dela. Aliás, entrar pode, desde que esteja acompanhado com pelo menos mais um enfermeiro.
O rapaz lembrou do doutor Jéferson explicando as regras, lembra-se de que ele chegou a questionar tal atitude.
         - Sabe rapaz, - o velho médico parecia bastante cansado, vulnerável até. - Madalena é um caso muito especial. Uma paciente muito antiga. Inteligente e extremamente violenta. Você teve sorte de escapar vivo. O último que quebrou as regras, não sobreviveu para contar. Não quero mais acidentes neste hospital.
         - Ela parecia tão frágil. Não imaginei que tivesse tanta força... - disse alisando a atadura. Quase perdera os dedos. A mulher crescerá sobre ele e o atacará com unhas e dentes. Fora tão de repente. Ele só conseguiu escapar utilizando a bandeja que trazia consigo.
         - Ela não é uma mulher comum. - o doutor pensou no enfermeiro anterior, fora encontrado completamente mutilado dentro do quarto, morrera antes de chegar ao hospital. Madalena batera com a cabeça dele diversas vezes no chão. Quando conseguiram tirá-la de cima dele, ela havia arrancado os olhos e o nariz dele... - o que exatamente aconteceu?
         - Eu estava levando comida para os pacientes. Iria levar a dela por último, estava esperando o Augusto chegar. Então quando passei pelo quarto dela, ouvi uma voz me chamando. Aproximei-me e ela sorriu para mim. Disse que estava com fome. Eu... eu não sei por que, mas ela parecia tão inofensiva, eu.. eu abri a porta. Eu sabia que não devia, mas eu não consegui evitar... - o rapaz choraminga. Não consegue explicar, era como uma força... uma coisa que obrigou a abrir a porta e entrar naquele quarto... ele não queria, mas não controlava mais braços ou pernas... sabe que se disser isso para o médico, corre o risco de acabar dentro de um daqueles quartos, como paciente. Por isso se cala.
         - E aí?
         - Aí entrei. A porta fechou, acho que foi o vento - não ele sabia que não fora o vento, alguma coisa fechara a porta, algo. - e ela começou a gritar. Fiquei nervoso e não consegui abrir a porta.  - ela estava trancada, mas ele não trancara... - gritei por alguém, mas ninguém veio... então ela pulou em cima de mim. Eu a empurrei com a bandeja, mas ela era tão forte... lutei com ela, enquanto tentava abrir a porta, que parecia emperrada... até que consegui abrir e sai, mas ela segurou meu braço e começou a me morder... - o rapaz se cala por alguns instantes. - Doutor, quando ela me atacou, ela não podia ser tão forte assim... não tem como... e eu sei que é estranho, mas eu senti como se houvesse outra pessoa ali. Havia mais alguém naquele quarto.
         - Um homem?
         - Sim, mas... como?
         - Esqueça isso, meu jovem... - o velho médico sentia-se cansado. Muito cansado. Era visível seu abatimento. Os cabelos brancos já se escasseando sobre a cabeça. Olheiras profundas sob os olhos. Olhou para as mãos, já não podia movê-las como antes. No frio sentia imensas dores nas juntas. Era hora de se aposentar. Definitivamente, era hora de sair daquele lugar.
         - Acho que por hoje chega. Vá para casa, meu rapaz. Descanse. E lembre-se, nunca mais se aproxime sozinho daquele quarto.
O rapaz levantou-se. Sentia-se mal, enjoado. De repente aquele emprego já não parecia assim tão bom. Havia alguma coisa estranha naquele lugar. Naquele quarto. O mal. Era isso, não a mulher, mas o quarto todo.
O médico agora estava de costas, olhando para a Janela. O rapaz ainda deu uma última olhada para trás e saiu, fechando a porta atrás de si.

Doutor Pedro continuou olhando para a janela durante alguns minutos. Olhava distraidamente o pátio. Quem construíra aquele hospital fizera um excelente trabalho de arquitetura. A sala da direção situava-se no segundo andar do prédio, e dali, podia ver o pátio, as janelas das enfermarias e de alguns quartos. A janela do quarto de Madalena era bem em frente a sua. Podia vê-la através das grades, deitada sobre a cama, presa com tiras acolchoadas nos braços e pernas. Tinha a impressão de que ela falava, conversava agora com alguém.

19 de out. de 2011

2ª Rifa Oba! da Bichos de Pano


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Necessaire patchwork caminho da joaninha!

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E isso é só (?) o Primeiro Prêmio. Espia os outros prêmios:

2º Prêmio:
Bandeja para Notebook!

Case para Notebook com Alça tiracolo!

3º Prêmio: Esse além de ganhar ainda vai poder escolher entre as três opções das Almofadas Divertidas:
Você poderá levar a
Almofada Matrioska OU

A Almofada Corujinha OU

A Almofada Galinha Pintadinha
4º Prêmio:
Uma Boneca Lucky
5º Prêmio:
MugRug com Abafador de Caneca fofos!

Luva e Pega-panela de Cupcake!
Percebeu o detalhe? participando da rifa, você terá CINCO chances de ganhar - isso mesmo, são CINCO chances e um prêmio extra para quem ajudar a divulgar nas redes sociais! Agora, pensa  comigo, são prêmios imperdíveis por R$ 10,00!

Além de tudo isso, você ainda pode pagar a RIFA pelo PagSeguro, no conforto do seu pc, mas também tem a opção de comprar seus números em qualquer lotérica!


Veja como é fácil participar:

1º Escolha um (1) número de 01 a 100 - confirme antes na listagem para ver se o número escolhido está disponivel.
2º Deixe seu Nome, E-mail e o(s) Número(s) Escolhido(s). no sistema de comentários (só vale ESSE DAQUI!)
3º Faça o pagamento 
4º Envie e-mail confirmando o pagamento
5º Torça muito para ganhar um dos 5 prêmios
6ª Para cada número escolhido você paga R$ 10,00.

O sorteio será pela Loteria Federal -  dia 18/11/2011 - sábado, 18 de novembro de 2011

Depósito em conta:
(pode ser pago em qualquer lotérica)
Banco: Caixa Econômica Federal
Agência: 3057
Tipo: 003 - pessoa jurídica
C/C: 00000941-9
Titular: Patricia Soares Daltro Delgado

Ou você pode pagar pelo PagSeguro é só clicar no botão abaixo:


E para todos que ajudarem a divulgar no Twitter e no Facebook - avisem (e deixem os links no comentário) também nos comentários, que será sorteado um presente surpresa!!!